sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Indecisões Incautas

Querias ter a perfeição de um Deus extraordinariamente sensível ao pecado humano e sem procedimentos bruscos de arrependimento taciturno. Talvez sorriste no âmbito de um plano demasiado restrito para a argumentação lógica das palavras soltas. Talvez foste o mais e eu fui o menos. Terá sido o contrário do contrário? Inversamente, sou aquilo que planeio ser e aquilo que nunca pensei planear não ser. Sou um ser inacabado, um sussuro prudente no meio das indecisões incautas. Sou uma vezes dois mil desejos de felicidade. Sou tu na mais infíma rota diambolante.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

O Barco e o Cais

É como que se uma onda chegasse, arrebatadora e intensa, e me quisesse levar de novo ao porto que abandonei, ao cais que me deixou quando eu atracava com a maior das forças, no âmbito de nunca o mais deixar. Essa mesma onda que me levou, que me fez andar à deriva no oceano, que me revoltou contra a humanidade e que originou uma verdadeira tempestade dentro de mim.

Tempestade, furacão, marés cheias, marés vazias… balancei, andei à toa, sem perceber por onde andava a navegar, para que lado estava o cais que me viu partir e nada fez para me salvar. Tudo levava a crer que queria mesmo que eu fosse para longe, para o alto mar, sem quaisquer tipos de apoios, com os remos partidos, com o coração destroçado.

Viu-me partir, disse-me adeus… a onda chega e leva-me perto do cais e fico a mirar cada pormenor, cada recordação, cada sentimento passado, mas não me deixa ficar lá. O porto tem novos barcos, novas ambições… e não quer o barco antigo de novo. É como se a vida fosse interminável, como se fosse um ciclo sem fim, uma perda vitoriosa do tempo contra o ser humano.

O barco continua à deriva. Continua sem porto onde atracar. Continua ansioso por novas oportunidades para demonstrar que merece um bom sítio.

O cais vive sem pensar. Atracam nele todos os dias novos navios, glamorosos, guerreiros… nunca mais se lembrará de um barco antigo, que deixou partir, que não agarrou, que tem saudades do velho cais, do velho porto de abrigo, da velha e querida âncora que o segurava por entre as vicissitudes ambíguas que se demonstravam impenetráveis.

Era uma vez um barco e um cais de quem mais ninguém quis saber...

sábado, 2 de outubro de 2010

Rotinas do Nada

Gestos aglutinados em movimentos vãos ascendem rotativamente em práticas programadas, como que se por magia quisessem soltar-se em sentimentos capazes de dominar o mundo, quiçá o coração. Esse coração completamente ansioso por algo mais, algo que o faça não duvidar da palavra «amor»